quinta-feira, abril 27, 2006

Nosso mais valioso recurso natural


João Matta
Professor da ESPM e consultor de Marketing, é engenheiro eletrônico formado pela USP, com pós-graduação em Comunicação pela ESPM e MBA em Gestão de Negócios pelo ITA/ESPM.


“As crianças são o nosso mais valioso recurso natural.” (Herbert Hoover)


Criar produtos e serviços específicos para as crianças e comunicá-los gerando uma grande demanda, sem qualquer adequada reflexão, parece-nos uma atitude irresponsável diante do “nosso mais valioso recurso natural”, não é mesmo? Vale lembrar aqui a definição de ética encontrada no Aurélio (1999;848). Segundo o dicionário, ética é “o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Assim, discutir ética é refletir a respeito das nossas condutas em relação a um determinado tema.
Será que temos sido sempre éticos quando praticamos o que aqui chamaremos de Marketing Infantil? Será que algumas vezes não somos traídos pela necessidade de lucros imediatos, deixando de lado princípios éticos e morais de nossa sociedade? Na maioria dos casos, certamente, não. Mas acredito que, sim, pequemos outras vezes por pura falta de reflexão.
Nesse plano –o das reflexões e do questionamento– é necessário aprender com o passado, atentando para experiências anteriores que são hoje vistas como grandes aberrações de marketing. Outro dia, por exemplo, assisti a um comercial de cigarro da década de 60 que usava dois personagens de desenhos animados superconhecidos na época e até hoje. Coisa inadmissível em nossos tempos, por razões óbvias. Porém, com um olhar mais atento, encontraremos ainda hoje exemplos menos radicais que também precisam ser revistos.
Estamos hoje em uma sociedade de consumo, e nossas crianças participam ativamente dela. Não podemos viver a utopia de que coibir radicalmente qualquer atividade de marketing específica para elas possa resolver o problema da eventual sedução consumista a que elas possam ser submetidas.
Mesmo que consigamos, com extremo esforço, não permitir todo e qualquer estímulo ao consumo infantil através dos meios de comunicação, nossas crianças ainda terão acesso a outros estímulos. Elas assistem a TV com seus pais e parentes, vão à escola, andam nas ruas etc. Estão, sem sombra de dúvidas, expostas 24 horas por dia –mesmo dormindo sonham com estímulos que recebem durante o dia– expostas ao consumo de uma forma geral. São, ainda por cima, estratégias e estímulos não criados especificamente para elas.
Diante desse quadro, a melhor saída parte da nossa reflexão –e o “nós” em questão se refere exatamente aos profissionais de marketing– quando estamos concebendo planos de marketing para o mercado infantil. Lembremos que, hoje, este nosso “mais valioso recurso natural” participa de quase a metade das decisões de compra de uma família e está inserido de forma ativa em nossa sociedade.
É necessário que sejamos éticos e preocupados com as nossas crianças em todo e qualquer plano de marketing que façamos.

Nenhum comentário: